Acontece que publicaram lá um box especial sobre Rapelay, um entre milhões de jogos pornográficos lançados pra PC no Japão. O diferencial: como o próprio nome sugere, ele tem como objetivo principal o estupro. Você precisa violentar três moças pra "vencer". E isso obviamente faz levantar sobrancelhas e provocar gritinhos de indignação aqui e acolá.

Eu não sou favorável ao estupro e muito menos aprovo um jogo que enaltece essa prática. Mas o que mais me choca não é o assunto em si, mas sim o despreparo e a leviandade com a qual o assunto é tratado - na mídia "normal" e na especializada também.
Temos, primeiro, o fator novidade. Que não existe. Bom dia: Rapelay foi publicado em 2006. Chamar a atenção para isso agora é a mesma coisa que exibir uma pornochanchada (pra não dizer coisa mais pesada) nos EUA e dizer que essa é a toda a produção cinematográfica do Brasil. Tem gente perturbada no Japão, tem gente perturbada aqui, tem gente perturbada do seu lado. Em vários níveis. Nem por isso todo mundo é perturbado.
Os jornalistas não especializados que vêm falando sobre isso só levantam o assunto para gerar um desconfortozinho e ganhar uns page views a mais. Mas o problema é quando alguém que está no mercado começa a fazer isso. E eu já vi fazer.
Mas o que mais me irrita não é isso. É que, mais do que as pessoas "de lá", pessoas "daqui" estão usando o velho: "mas isso é só um jogo" como tônica pra discussão. Quase não é mais aceitável para um leigo. É inadmissível para quem diz achar videogame coisa séria. Uma indústria séria. Uma imprensa séria.
Quem dá esse tratamento "café com leite" para qualquer videogame ajuda a dar dois passos pra trás na luta pra que o mercado seja reconhecido. Principalmente aqui no Brasil, onde ele é amplamente visto como pouco mais que uma brincadeira.
Ele é um jogo sim, e daí? Só por isso ele não pode ser sexista, racista, violento? Precisa passar a mão na cabeça? A mesma coisa aconteceu com Resident Evil 5 algum tempo antes do seu lançamento: o acusaram de racista. Por que, ao invés de varrer o assunto pra baixo do tapete com o argumento do "é só um jogo", não discutimos se ele é racista ou não - como se faria num meio de gente?
Obviamente não é todo caso que merece a discussão. Mas qualquer coisa é melhor do que simplesmente tentar varrer para baixo do tapete a legitimidade de uma mídia toda. Com só quatro palavras.
Postado também em www.gametv.com.br