quarta-feira, 1 de abril de 2009

Papo sério

Recentemente uma dessas revistas semanais grandes - a Veja, se não me engano - trouxe um pouco de atenção de volta ao mundo dos games. Do jeito ruim, óbvio.

Acontece que publicaram lá um box especial sobre Rapelay, um entre milhões de jogos pornográficos lançados pra PC no Japão. O diferencial: como o próprio nome sugere, ele tem como objetivo principal o estupro. Você precisa violentar três moças pra "vencer". E isso obviamente faz levantar sobrancelhas e provocar gritinhos de indignação aqui e acolá.



Eu não sou favorável ao estupro e muito menos aprovo um jogo que enaltece essa prática. Mas o que mais me choca não é o assunto em si, mas sim o despreparo e a leviandade com a qual o assunto é tratado - na mídia "normal" e na especializada também.

Temos, primeiro, o fator novidade. Que não existe. Bom dia: Rapelay foi publicado em 2006. Chamar a atenção para isso agora é a mesma coisa que exibir uma pornochanchada (pra não dizer coisa mais pesada) nos EUA e dizer que essa é a toda a produção cinematográfica do Brasil. Tem gente perturbada no Japão, tem gente perturbada aqui, tem gente perturbada do seu lado. Em vários níveis. Nem por isso todo mundo é perturbado.

Os jornalistas não especializados que vêm falando sobre isso só levantam o assunto para gerar um desconfortozinho e ganhar uns page views a mais. Mas o problema é quando alguém que está no mercado começa a fazer isso. E eu já vi fazer.

Mas o que mais me irrita não é isso. É que, mais do que as pessoas "de lá", pessoas "daqui" estão usando o velho: "mas isso é só um jogo" como tônica pra discussão. Quase não é mais aceitável para um leigo. É inadmissível para quem diz achar videogame coisa séria. Uma indústria séria. Uma imprensa séria.

Quem dá esse tratamento "café com leite" para qualquer videogame ajuda a dar dois passos pra trás na luta pra que o mercado seja reconhecido. Principalmente aqui no Brasil, onde ele é amplamente visto como pouco mais que uma brincadeira.

Ele é um jogo sim, e daí? Só por isso ele não pode ser sexista, racista, violento? Precisa passar a mão na cabeça? A mesma coisa aconteceu com Resident Evil 5 algum tempo antes do seu lançamento: o acusaram de racista. Por que, ao invés de varrer o assunto pra baixo do tapete com o argumento do "é só um jogo", não discutimos se ele é racista ou não - como se faria num meio de gente?

Obviamente não é todo caso que merece a discussão. Mas qualquer coisa é melhor do que simplesmente tentar varrer para baixo do tapete a legitimidade de uma mídia toda. Com só quatro palavras.

Postado também em www.gametv.com.br