quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Conserto para a juventude

"Porque com a possível exceção de subcelebridades pornô, nada envelhece mais rápido do que os padrões para gráficos totalmente 3D" - Ben "Yahtzee" Croshaw

Eu nunca tinha parado pra pensar nisso, mas é verdade. Tão verdade quanto o fato do próprio Yahtzee - esse garanhão australiano, como ele mesmo se autodenomina - ser uma das pessoas mais eloquentes pra falar de videogame na atualidade. Quem mais consegue misturar lógica e pornografia num único argumento infalível? Eu tento, eu sei que eu tento.

O meu tão demorado assunto de hoje, porém, não é bem esse. É algo parecido. Veja, o que o nosso amigo ali em cima quis dizer e que o que é lindo em 3D hoje se parece mais com um monte de cocô na semana que vem. Ok, só cocô não. Caixas de papelão com pedacinhos de cocô. Os pixels, por outro lados, são eternos. Uma coisa que era bonita em 2D quando 16 bits eram o suficiente continua sendo bonita hoje. Concordo, Seu Yahtzee.

Isso me deixou pensando: e música, entra nessa parada também? Será que as trilhas sonoras de antes - as que eram boas, claro - continuam eternas enquanto as caríssimas orquestras de hoje são pouco mais que esquecíveis? A resposta, eu creio, é que sim.

Na minha cabeça perturbada ambas as áreas - áudio e vídeo - pulam a barreira que divide o épico do meia jeba com um único trampolim: a direção. Direção de Arte, Direção Musical. Gráficos 3D envelhecem não pelo que os artistas fizeram, mas pelo que eles quiseram fazer: essa merda que chama ultrarealismo.

Porque pra fazer ciber fuzileiro naval do espaço mais realista possível, me desculpem, não precisa ter Direção de Arte. Qualquer zé roela faz. E criar personagens poligonais que se pareçam com eu ou com você (só que com pele de plástico e sangue de petróleo) é uma questão pura de técnica. Matemática. Algorítimo. Não tem absolutamente nada a ver com imaginação muito menos com identidade.

O mesmo acontece com aquilo que os produtores bem intencionados querem dar de comer às nossas orelhas. Deus do céu! Se eu ouvir mais alguma variante da trilha sonora do Senhor dos Anéis, do Resgate do Soldado Ryan ou daquela Duel of Fates, vou bater a cabeça na parede até acreditar que estou vendo Tiririca e Genival Lacerda tocando Smells Like Teen Spirits.

Não é pra dizer que qualquer música que saia de um videogame novo faça meus canais auditivos sangrarem. Não é verdade. Quer um exemplo de coisa boa? Ouça qualquer música da trilha de Jet Set Radio Future, por exemplo. Qualquer uma. A minha preferida é essa aqui que, cazzo, toca logo na abertura do jogo. Curiosamente, JSRF é um daqueles jogos com uma direção de arte caralhal.

Mas, voltando à tese principal, as músicas dos oito e dezesseis bites parecem ser mesmo as mais icônicas, pelo menos. Claro, batidas repetitivas vão grudar na sua mente mesmo. Mas é impressionante ver o que algumas pessoas conseguiam faz, principalmente na época do glorioso chiptune. Referência? A música da primeira fase de um dos meus jogos favoritos: Akumajo Densetsu ou Castlevania 3: Dracula's Curse

O que me leva ao revival recente dos blipblops primordiais. Tem muita gente por aí se esbaldando de adaptar desde Weezer a Miles Davis para o jeito NES de ser e, sinceramente, eu não poderia me importar menos com eles. É divertido? É, até é, vou admitir. Por cinco minutos ou duas músicas. Não acrescenta nada. Não me faz pensar "rapaz, mas que coisinha mais lindinha de deus". Até o que o ytcracker faz, por exemplo, é mais criativo.

Prefiro dar bola, por exemplo, pros rapazes simpáticos do Anamanaguchi. Eles, veja, só compõem a partir de chiptune. Músicas novas com técnicas velhas. Não vou dizer que é de se apaixonar à primeira ouvida. Na verdade o que sai dessa mistura pode soar bem esquisito pra algumas pessoas - e fatalmente carrega aquele estigma de música de videogame. Ainda assim tem mais identidade, mais atitude, contribui mais para a evolução do gênero do que qualquer Harry Gregson-Williams. Que, bem sério, fez uma música boa pra trilha do Metal Gear Solid.

Fernando Mucioli não conseguiria cultivar um cavanhaque nem que quisesse

Um comentário:

Artur Palma disse...

O que mais me diverte é ver como essas canções antigas tem figurado cada vez mais em jogos novos. A dita música de Castlevania reaparece mais do que doença venérea em traveco do Jóquei. Isso sem falar em Mega Man, Mario e Zelda.

Porque isso acontece? PORQUE SÂO MUSIQUETAS DO CARALHO, PORRA!

Tão simples, oras!

Mas se tem uma coisa que não é simples é compor uma música divertida, grudenta e viciante com os canais extremamente limitados que o NES fornecia.

Para compreender, recomendo esse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=09V2wu1dKok
Ele explica como tocar uma música incrível da era 8=bit, Punch-Out, e não só isso, também explica todo o sistema de som do NES.