terça-feira, 21 de julho de 2009

Habemos Hentai

Eu não penso em pornografia o tempo inteiro. Só quando é pertinente - conceito esse que é um tanto quanto relativo.

Foi pertinente, por exemplo, pensar em pornografia nesse post aqui. É pertinente, então, pensar em pornografia de novo agora que me bateu aquela vontade de continuar o assunto. De um jeito um pouquinho diferente.

Mais uma vez, a inspiração veio de fora: um amigo, que mora no Japão e acompanhou a "crise dos jogos eróticos" lá mais de perto, me mandou uma charge deveras interessante que me fez olhar a situação um pouco mais por baixo da saia - coisa que eu não estou acostumado a fazer.

Para quem não viu ou não se interessou em ver, o shitstorm causado quando redescobriram o Rapelay - aquele jogo de 2006 - foi maior do que o imaginado. O governo japonês fez com que muitos sites dedicados a jogos, ilustrações e mangás eróticos trancassem suas portas a visitantes do exterior e restringissem suas... área de atuação, digamos assim. Certas temáticas foram proibidas, desproibidas e, acho proibidas de novo. Os estupros virtuais fazem parte dessa categoria.

Whatever, dude
- pensei. Fetiche escroto, vá lá. Mas estupro é outro papo. Eles certamente conseguem se virar sem isso.

Mas aí me bateu - ou melhor, a charge me bateu.
O que é mais frágil: uma "indústria" de fundo de quintal tocada por nerds com muito talento, imaginação e tempo hábil em feiras esporádicas e pela internet ou um negócio multimilionário - esse sim - atrai milhões de jovens (e não tão jovens assim) pra uma vida "fácil", com muito dinheiro e pouca dignidade? Faz com que elas, algumas nem bem com 18 anos, já se vejam humilhadas por dezenas de homens ao mesmo tempo? Bota as gurias pra comer baratas (é, o inseto) e uma variedade de dejetos humanos? Essa mesma que é protegida por poder financeiro, político e, obviamente, físico?

Claro que a escolha, no fim das contas, é da moça. Sempre existe escolha. Mas nesse caso, pelo menos a relação é cíclica: tem procura porque tem mercado, tem mercado porque tem procura.

É realmente ótimo que governos - ou quem quer que seja - queira inibir coisas que denigram a imagem da mulher (o que por si só já é algo complicado no Japão). Mas por favor: "dois pesos, duas medidas", não. É fácil pegar no pé dos nerds indefesos (perturbados, mas ainda assim indefesos) e achar que o problema está resolvido porque diminuiu a safadeza sofrida por gente que não existe.

Me acordem quando nego começar a levar as coisas a sério, se revoltar com o que vale a pena se revoltar e parar de fingir que se importa.

Fernando Mucioli pode não concordar com a sua tara secreta, mas vai lutar até a morte pelo direito do leitor de tocar sanfona para acetato e/ou namoradas cujo sobrenome sejam .jpg, .png, .gif e variantes.

2 comentários:

Laka disse...

Mano, os japoneses tem a ilusão que o mundo acha que eles são todos certinhos, coisa de primeiro mundo.. pelo menos é o que eu vejo no tratamento com pessoas de países de terceiro mundo.
Fato é que andar em Akihabara é algo meio sem noção. Meninas vestidas de maid sendo abordadas por caras zuados, convidado os tais a visitarem os cafes em que trabalham.
Filas de salaryman após o trabalho entrando nas lojas de jogos adultos, de figures pornos, coisas do gênero, como se tivessem olhando um dvd de ação.
E como vc disse, tem procura, tem mercado e denigrir a imagem da mulher no Japão é algo relativo.
Acho que realmente se o cara prefere ver anime/foto/figure ao inves de mulher mesmo.. é uma escolha dele, mas é assutador o fato de terem carros no trem/metrô separados para mulheres nos horarios de pico e mesmo assim saber que isso é fetiche pra mtos deles a ponto de ter filmes...
é algo que não faz sentido, pelo menos na minha cabeça. (Escrevi demais)

Fernando Mucioli disse...

O engraçado dessa história é justamente como os japoneses são tão reprimidos e ao mesmo tempo tão liberais (até demais) com esse tipo de coisa.

Mas independente de tudo eu concordo: esse "imaginário pornográfico" e o comportamento "escondido" deles com relação ao sexo é realmente perturbador/assustador.